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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Santa Casa de Campo Grande teve duas intervenções em 20 anos e dívidas quadruplicadas

Greve acabou, mas problemas com dívidas continuam em um dos maiores hospitais de MS

Nos últimos 20 anos, a Santa Casa de Campo Grande passou por sucessivas intervenções, marcadas por crises administrativas e financeiras. A mais recente culminou na greve dos enfermeiros, que durou dois dias, terminando na noite de terça-feira (23).

A categoria dos enfermeiros aceitou proposta da Santa Casa e encerrou a paralisação. Serão pagos 50% do décimo terceiro nesta quarta-feira (24), e o restante, no dia 10 de janeiro de 2026.

Já o Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) informa que não foi convidado para a reunião e que a questão do atraso está judicializada. “Entraremos em batalha judicial contra esta atual administração”, disse o presidente do Sinmed, Marcelo Santana Silveira. Na tarde desta terça, durante as negociações, a Polícia Militar chegou a ser acionada devido aos ânimos alterados.

Dívidas

O principal motivo para intervenções no hospital são os mesmos de agora: acúmulo de uma dívida milionária. A Santa Casa afirma que o aporte repassado está defasado e não atende aos pagamentos necessários.

A intervenção mais antiga, de 2005, chegou ao fim com a devolução do hospital à ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), mas deixou um legado preocupante: uma dívida que saltou de R$ 34 milhões para cerca de R$ 160 milhões e um déficit mensal que oscilava entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões.

Na primeira grande intervenção, o governo assumiu o controle da Santa Casa por conta da dívida milionária. Na segunda, em 2013, uma junta mista do governo e da Prefeitura de Campo Grande assumiu a gestão.

À época, o então diretor do hospital, Wilson Teslenco, destacou que a gestão do hospital precisava ser alterada. “O futuro do hospital depende de um acordo, porque a dívida só cresce”, alertou Teslenco.

Greve

Os funcionários da Santa Casa cruzaram os braços na última segunda-feira (22), após anúncio de que o 13º salário seria pago ao longo de três parcelas. A categoria dos enfermeiros entrou na Justiça do Trabalho pedindo tutela de urgência na questão da falta de pagamento. A categoria havia concordado com volta de 50% do efetivo ao trabalho.

O pedido de tutela foi concedido na segunda-feira (22), pelo juiz substituto Leonardo Ely. Na decisão, o magistrado deu prazo até dia 24 de dezembro para que a Santa Casa se manifeste e determinou multa diária de R$ 1 mil ao hospital.

Os funcionários voltaram a se reunir no saguão do hospital na manhã de terça-feira, durante o protesto, com gritos de ordem como “Santa Casa vai parar”. A presidente da instituição, Alir Terra Lima, foi vaiada durante a chegada à unidade.

O presidente do Sintesaúde (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de MS), Osmar Gussi, informou que não há previsão de pagamento integral. A categoria recusou a tentativa de acordo do hospital de parcelar o 13º em três vezes, sendo o primeiro pagamento em janeiro.

Administração em crise

A administração do hospital alega inadimplência e atribui a falta de aumento nos repasses da Prefeitura e do Governo do Estado. Contudo, tanto o Estado quanto a Prefeitura estão em dia com os repasses atualmente acordados.

A Prefeitura de Campo Grande reafirmou que está em dia com todos os repasses financeiros destinados à Santa Casa e informou que, desde o início de 2025, vem realizando aportes extras mensais no valor de R$ 1 milhão.

Já o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul informou, nesta segunda-feira, que já repassou mais de R$ 115,7 milhões durante 2025 para a Santa Casa de Campo Grande. O Estado ainda esclarece que nunca foi o responsável por pagar o 13º dos funcionários do hospital.

Segundo nota encaminhada pela SES-MS (Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul), não há pactuação para que a gestão estadual seja a responsável pelo pagamento do 13º. “Nos últimos anos, em caráter extraordinário, foi realizado o pagamento de uma parcela extra de repasse aos hospitais filantrópicos do Estado, como forma de auxiliá-los no custeio e no cumprimento de suas obrigações”, esclareceu.

A SES disse ainda que todos os repasses financeiros referentes à contratualização da Santa Casa são realizados por meio de pagamentos ao município de Campo Grande, sempre no quinto dia útil. De janeiro a outubro, foram repassados R$ 90.773.147, o que corresponde a R$ 9.077.314,70 mensais.

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