“Ação histórica e transformadora”: diz Chefe-Geral da Embrapa Agropecuária Oeste
sobre parceria com a UFGD/FAIND e avanços do Sisteminha apresentados no V ERECCO
A Embrapa Agropecuária Oeste e a Faculdade Intercultural Indígena, da
Universidade Federal da Grande Dourados (Faind/UFGD) ampliaram sua
cooperação estratégica para apoiar a produção sustentável de alimentos em
comunidades indígenas, por meio da implantação da Unidade de Referência
Tecnológica (URT) do Sisteminha Embrapa, uma tecnologia social de produção
integrada de alimentos em pequenos espaços.
As atividades foram realizadas durante a programação do V Encontro Regional da
Educação do Campo (V ERECCO), em 19 de novembro, quando as instituições
apresentaram resultados parciais do Acordo de Cooperação Técnica (ACT).
Saberes tradicionais e científicos em diálogo
O cerimonial teve início com o ritual Jehovassá. Este momento de saudação
espiritual e cultural marcou a união entre o conhecimento tradicional e o científico no
contexto da agroecologia. O Jehovassá foi conduzido por Dona Marilda, Nandhecy
Guarani-Kaiowá, e por Sidimar Franco Aquivel, jovem liderança Guarani, aprendiz
Nhanderú e acadêmico da FAIND/UFGD.

O pesquisador da Embrapa Maranhão e desenvolvedor da tecnologia Sisteminha,
Luiz Carlos Guilherme, participou das atividades e destacou, em sua fala, a alegria
de estar presente neste momento histórico e explicou “a Unidade da Embrapa aqui
de Dourados está inserida numa região com características de grandes culturas e a
entrega dessa ferramenta de segurança alimentar para os povos tradicionais
demonstra que a Embrapa está comprometida com a melhoria da qualidade de vida
de todos. Espero que o Sisteminha sirva como um modelo de que é possível
conviver em paz, com bastante respeito às diferenças, pois as tecnologias do
Sisteminha são integrativas, bem como os objetivos dessa parceria”.
A atividade contou com a presença de diversas autoridades e coordenadores do
ACT, incluindo o Chefe-Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato de
Oliveira. Para ele, o impacto social e educacional da tecnologia social é muito
relevante e deve gerar muitos frutos para os povos tradicionais do Sul do Mato
Grosso do Sul. “Hoje é um dia histórico para a Embrapa Agropecuária Oeste, que
completou 50 anos, em 2025. A incorporação do Sisteminha na grade curricular da
Faind está promovendo a disseminação de informações do Sisteminha, que vai
contribuir no longo prazo, fornecendo um modelo de sistema de produção
sustentável de alimento, que contribui para a segurança alimentar e a autonomia
dos povos tradicionais”, disse ele.
Harley explicou ainda que esta parceria demonstra a articulação entre a pesquisa
científica e o conhecimento tradicional, viabilizando um sistema de produção de
piscicultura integrada ao cultivo de hortaliças e frutas de baixo custo e acrescentou
“a continuidade desse trabalho aponta para novos horizontes de formação, pesquisa
e desenvolvimento”.
Representando o Reitor da UFGD, Jones Dari Goettert, a Pró-Reitora de Extensão e
Cultura (Proec), Lívia Gussoni Basile, destacou o papel da universidade em ampliar
o acesso a tecnologias que dialogam com a realidade das comunidades e possam
ser integrados ao cotidiano dos povos tradicionais.
Para a Diretora da Faculdade Intercultural Indígena (Faind/UFGD), Maria Aparecida
Mendes de Oliveira, destaca que o Sisteminha proporciona uma troca de
conhecimento desenvolvida com base no diálogo intercultural e no uso de
tecnologias que contribuem com a construção de modelos que darão retorno para
as comunidades e informou ainda que “em 2026, daremos início ao curso de
Tecnólogo em Agroecologia, então hoje também estamos presenciando o
surgimento de um novo espaço pedagógico na Faind”.
Também participaram do evento, os dois coordenadores do ACT, o professor
Adenomar Neves de Carvalho (Faind/UFGD) e o pesquisador Laurindo André
Rodrigues (Embrapa Agropecuária Oeste). Alunos, representantes das
comunidades tradicionais indígenas de Dourados e professores de outras
graduações, além da Superintendente de Infraestrutura (Suinfra) da UFGD, Liliane
Congro da Rocha também participaram das atividades realizadas no período
vespertino dentro da Casa de Reza da Faind, que fica ao lado do Sisteminha.
Lançamento de livro e relatos de transformação
As atividades do Sisteminha fizeram parte da programação do V Encontro Regional
da Educação do Campo do Centro-Oeste (Erecco) O evento foi realizado na FAIND

- UFGD, de 17 a 20 de Novembro de 2025. O V ERECCO também marcou o
lançamento do livro “Sisteminha adaptado: Um caminho pedagógico para a
agroecologia e a Educação do Campo” (https://a.co/d/hEycwMd), escrito pela
doutoranda em educação, Karla Caetano.
Ela mora em Flores do Goiás e contou que em apenas dois anos o Sisteminha
transformou a realidade de sua família e modificou a paisagem sépia, árida e
marrom do seu lote, no assentamento, que passou a ter cores, sons de pássaros e
um microclima mais confortável e disse “o Sisteminha trouxe vitalidade, diversidade
e novas possibilidades para a minha família e para a nossa comunidade”.
Karla disse ainda “fiquei muito feliz de presenciar as atividades de entrega de
resultados do Sisteminha aqui em Dourados, na Faind/UFGD” e explicou “o uso do
Sisteminha como uma ferramenta didático pedagógica é a realização de um sonho
que para mim começou há mais de 10 anos e que está transformando a minha
vida”.
Oficinas práticas ampliaram o aprendizado
Como parte das atividades do V Erecco, foram realizadas oficinas práticas sobre o
Sisteminha no dia anterior, 17 de novembro, durante o período vespertino. Essas
atividades fizeram parte do Eixo 4 – Educação no Campo: Meio Ambiente e
Agroecologia – Parceria Sisteminha, sob a coordenação de Karla Caetano. As
atividades conectaram teoria, prática e experiências diversas, reforçando o caráter
formativo do Erecco.
Ao todo, foram realizadas seis atividades consecutivas, com 20 minutos de duração
cada. Foram oficinas práticas com os seguintes temas:
- Sisteminha Comunidade na Aldeia Pedra Branca (Povo Krenyê): formação
técnica, autonomia produtiva e sustentabilidade; - Robótica Sustentável: Tecnologia a Serviço da Vida e da Dignidade;
- Dengoso: Ações Lúdicas de Educação Ambiental no Enfrentamento às
Arboviroses na Educação Básica; - Análise Econômica do Sisteminha Embrapa na Região de Alcântara e São Luís:
enfoque sobre a depreciação do módulo do tanque; - Produção Domiciliar de Húmus de Minhoca utilizando o Módulo de Compostagem
e Minhocário do Sisteminha Embrapa-UFU-Fapemig; - Perspectivas de mulheres de comunidades quilombolas e indígenas no projeto
Sisteminha Comunidades.
A parceria entre Embrapa e Faind/UFGD demonstra que tecnologias sociais,
quando articuladas ao conhecimento tradicional, podem gerar impacto duradouro na
segurança alimentar, na autonomia produtiva e na valorização cultural. O
Sisteminha Embrapa, ao integrar ciência, território e ancestralidade, se consolida
como uma ferramenta inspiradora para a construção de uma agricultura mais
sustentável, inclusiva e alinhada às realidades das comunidades indígenas do Mato
Grosso do Sul. A continuidade desse trabalho aponta para novos horizontes de
formação, pesquisa e desenvolvimento.


