30/03/2019 12h54 – Atualizado em 30/03/2019 12h54
Conhecendo o projeto “Amigos do Joel”
Transformando sonhos em realidade
Por EDSON MORAES
Campo Grande está quase com um milhão de habitantes. É uma das cidades que mais se desenvolvem no Brasil e por causa disso as demandas sociais se acumulam. O poder público não tem orçamentos suficientes para responder a todas as carências com a velocidade necessária – e por isso as intervenções da sociedade civil fazem a grande diferença.
É o caso do Projeto Amigos do Joel, hoje um dos mecanismos sociais de referência no Estado na área da promoção humana, da afirmação dos direitos da pessoa e da inclusão. O nome é referência ao seu idealizador, Joel Lídio Faustino, que após nove anos dirigindo ônibus do transporte coletivo teve que largar a profissão porque, num acidente de moto, teve uma das pernas amputadas.
O doloroso acidente não foi encarado por Joel como uma tragédia e muito menos o lançou na planície rasa do coitadismo. Em vez de virar vítima, lançou-se à luta. E com motivações renovadas. Cristão, temente a Deus e convicto de suas capacidades, criou nova perspectiva de vida, a partir do olhar com que sua fé vê as dores e angústias das pessoas excluídas social e economicamente, gente desalentada e à procura de oportunidades, de respeito ou, muitas vezes, apenas de um abraço.
Antes mesmo de conseguir o auxilio de uma perna mecânica, lá estava o Joel envolvido n busca de um objetivo que não era para si, mas para gente que não tinha horizontes, gente despossuída e carente de oportunidades, de espaços, de conhecimento e de afeto. Joel vivia os sonhos, as dores, as solidões e as carências e dos outros. Este viver era a motivação que deu a ele a ideia e o oxigênio da coragem para criar e dirigir um dos melhores projetos de inclusão social no Estado.
ESTRUTURA – Com a grande quantidade da clientela proveniente da populosa periferia campo-grandense, a necessidade de garantir estrutura compatível tornou-e um desafio extra e dos mais complexos. A escolinha do Projeto Amigos do Joel, iniciada em 2009 com o criador treinando o próprio filho para jogar futebol. A vizinhança se interessou e levou os filhos para ele treinar. Nascia o projeto. E o mutirão com os pais garantiu os primeiros materiais. Porém, Joel queria mais. Além do futebol, era preciso incentivar hábitos saudáveis, como o estudo, a leitura e a consciência sobre direitos e deveres.
“Este trabalho disponibiliza espaço e técnicos para treinar 50 crianças. Há eventos duas vezes por semana e acompanhamento do rendimento escolar”, conta. As atividades incluem estudo, avaliação de aprendizado, relacionamento familiar e o esporte. Os jogos reúnem mais de 100 crianças entre o futebol de campo na Associação de Moradores da Cohab, Jardim Botafogo e na quadra da Escola Vida Feliz. Importante: nota vermelha na escola tira o aluno do jogo. A disciplina a responsabilidade são conceitos essenciais na formação das crianças.
Ao todo, a demanda de todas as ações e projetos já atendeu mais de mil crianças e adolescentes, na faixa dos seis aos 17 anos. Cada atleta deve ter ao menos 80% de frequência nas aulas. Os resultados impressionam, tanto no aproveitamento escolar como no trato com a bola. Joel informa feliz, que alguns de seus pupilos já se destacam no futebol. Ryan Kayo, que já passou por avaliações em clubes como Palmeiras, Grêmio, Betinho Talentos e Santos, foi selecionado para apresentar-se em novas avaliações. O goleiro Nicolas Gomes foi para uma avaliação em outro clube e hoje é bolsista em uma famosa escola de futebol de salão.
Tudo isso, no entanto, implica investimentos. Para as aulas e as atividades físicas, educacionais, psicopedagógicas, mobilidade, alimentação, higiene e suporte técnico os custos se acumulam. Joel Faustino não desanima e luta sem descanso para manter a qualidade e a regularidade do projeto.
Num levantamento inicial, é possível descrever as exigências que um empreendimento dessa dimensão apresenta: nutricionista, assistente social, professores de educação física, professores para reforço escolar, merendeiras, monitores e outros. Entre condições de logística, transporte e administração estão inclusos equipamentos como carteiras escolares com cadeiras, uniformes de treinamentos, freezer horizontal, computadores, mesas, cadeiras de escritório, impressora, telefone, kits de material escolar e cones para exercícios, equipamentos sonhados e desejados para ampliação do projeto.
Para oficializar os trabalhos foi criada uma ONG – ABR (Associação Assistencial Restituir), uma organização não governamental à qual acoplou o projeto Amigos do Joel e outras iniciativas do gênero. Sem fins lucrativos, a ABR atua desde outubro de 2010, na Rua da Beira Mar, 655, Conjunto Residencial Ribeirão da Lagoa, na Coophavila II, legalmente documentada e estabelecida.
REABILITAÇÃO
Com o Programa de Reabilitação, Joel vislumbra a cidadania de quem quer espaço de integração social e econômica, mesmo portando algum tipo de deficiência física. E a ABR se capacitou para isso. O atendimento inclui orientações sobre direitos e faz encaminhamentos para receber próteses, cadeiras de rodas e outros produtos e serviços.
Segundo Joel Faustino, o projeto nasceu com foco nas vítimas de acidente de transito que perderam algum membro do corpo e se encontra desanimado para vida. “Hoje o atendimento chega fora de Campo Grande, O programa já atendeu 2.100 pessoas, encaminhando para os devidos órgãos, liberando tratamentos necessários bem como equipamentos para reintegração social”, explica.
Por causa das dificuldades financeiras e operacionais, não é raro o próprio Joel empregar seu veículo e dinheiro de seu salário, usando espaço cedido da igreja ADBR para depósito e reforma das cadeiras doadas. Por isso, está em busca de parcerias e apoio.
O Projeto Supera tem como ponto de partida a experiência vivida por Joel ao encarar a realidade de ter uma perna amputada e ser obrigado a readaptar-se ao mundo. Por isso insiste: a reabilitação precisa ir além do aspecto físico, mas estender-se ao psicológico, ao ético e ao de princípios, porque depende mito da própria força de vontade e da fé. E para dar condição de trabalho e resultados, o projeto move-se com duas linhas: o programa de reabilitação e o esforço de manutenção, por meio de doações de equipamentos e parcerias.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) calcula que existem no planeta cerca de 610 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, das quais cerca de 60% fazem parte da população economicamente ativa. Em Mato Grosso do Sul há 526,9 mil pessoas com deficiência, o que representa 21,50% da população do estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. E em Campo Grande este segmento é formado por 224,3 mil pessoas, o equivalente a quase 25% dos moradores da capital.
PRÊMIO NACIONAL
A Câmara dos Deputados Federais prestigia entidades e personalidades que atuam em prol da inclusão de pessoas com deficiência, com o prêmio Brasil Mais Inclusão. Joel Lídio Faustino, de Campo Grande, foi selecionado para receber a premiação devido aos trabalhos prestados à frente do projeto “Amigos do Joel” que busca orientar e dar assistência técnica a amputados da capital.
Para conhecer o projeto, “Amigos do Joel”, ligue para (67) 9 9196-1012






